quinta-feira, 4 de novembro de 2010

LIXO HUMANO



Uma idiota do serviço disse que Vitor não podia ter anulado seu voto.

- O caralho que eu não podia – foi a resposta que ela ouviu.

- Você não pode deixar as outras pessoas decidirem sobre o seu dinheiro.

Vitor ficou quieto, não acreditou no que ouviu, estava se lixando para o seu dinheiro, na verdade quase nem tinha dinheiro. Pensou em como as pessoas eram idiotas, em como odiava a raça humana e em como esses imbecis não conseguiam parar de pensar em dinheiro. Na época em que Vitor votava, ia pras urnas pensando em escolher um candidato que pensasse em melhorar a condição de vida das pessoas e não em que diabos iria acontecer com o seu dinheiro.

Vitor olhou para o espelho e se enojou, percebeu que não gostava dos seres humanos e ponto, não gostava de ser humano, não gostava em como os narizes saíam por entre os olhos, em como o suor escorriam pela testa e formações ósseas chamadas de dentes permitiam que ele mastigasse seus alimentos.

Decidiu que queria que a humanidade fosse a merda, é, definitivamente iria fazer de tudo pra que ele fosse a merda mais rápido. Foi a partir daí que aposentou os cestos de lixo da sua casa, jogava tudo pela janela do prédio agora. Garrafas pets, bandejinhas de lasanhas congeladas, potes vazios de rações de peixe e afins. Tudo ia embora pela janela a partir de agora.

- Você ta maluco? – disse Beatriz ao ver ele jogar um pedaço de chaveiro velho na rua outro dia – ta poluindo a rua!

Vitor fez uma cara amarrada, pegou aquilo do chão e colocou no bolso, não queria aporrinhação por esse novo estilo de vida. Em um dia chuvoso escorreu uma panela de óleo por toda a lateral do prédio e riu dizendo – malditos, morram todos com a minha poluição!

Essas coisas duravam pouco, Vitor se sentia um vilão ultra-maquiavélico de alguma história em quadrinhos, mas esse estilo de vida logo passava, porque faltava algum super herói pra combatê-lo. Desta vez ele ficou jogando lixo pela janela durante uns dois meses, no ultimo surto havia demorado o dobro até ele parar.

Quando resolveu voltar a usar o cesto de lixo, foi até a janela e gritou – O voto é meu e eu faço o que quiser com ele sua puta! – e pronto, o ódio havia passado.

Gustavo Campello

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