terça-feira, 24 de maio de 2011

O TERCEIRO SHOW DO SUPERCHUNK, A APOSENTADORIA DA CAMISETA DO KURT COBAIN & O SANGUE DOS ANOS 90 AINDA NA VEIA



Vitor estava indo assistir ao seu terceiro show do Superchunk no Brasil, tinha orgulho de dizer que estava presente no primeiro show deles por aqui em 1998, foi sozinho, em São Paulo, fez alguns amigos, pegou o telefone de uma garota, porém nunca teve coragem de ligar de volta. Ele era assim. Tímido. Lembrava das bandas de abertura, Pin Ups e Wry, ambas detonaram. Quando o Superchunk entrou foi do caralho! Parecia que pessoas caíam do teto, seu rosto foi acertado por tênis, cotovelos, bundas e bocetas. As vezes ele nem sabia se estava em pé mesmo ou de ponta cabeça. Acertou um ombro no queixo de uma garota que teve a língua partida e saiu correndo pra enfermaria. Eram os melhores anos de sua vida, vestido todo de preto, suando bicas e aproveitando o show. A melhor parte foi quando a corda do baixo da Laura Ballance estourou no meio de Precision Auto e a banda ficou improvisando até ela colocar novas cordas, afinar as mesmas e voltar pro mesmo ponto onde a música havia sido interrompida.

O segundo show no ano 2000 foi também muito bom, Jorge e Marcel haviam ido com ele, estavam comendo um cachorro quente antes de entrarem e na fila perceberam que a banda estavam na frente deles sendo barradas porque não tinham ingresso – We Are The Band! – dizia Mac McCaughan para o segurança que não entendia nada do que ele dizia. O Show teve só grandes músicas e Vitor pode voltar para casa cheio de hematomas e com um autógrafo da Laura Ballance no CD Here’s Where The Strings Come In que conseguiu depois do show com a ajuda de Jorge.

Agora era o ano de 2011, tanta coisa havia acontecido, era estranho ir ver o Superchunk de novo, durante o show foi como se tivesse se transportado para aqueles idos anos 90. Estava usando aquela velha e surrada camiseta com o rosto do Kurt Cobain estampado em preto e branco. Quem conheceu Vitor naquela época com certeza o viu vestindo esta camiseta, era quase como um uniforme. Tinha escolhido ir com ela porque era hora de aposentá-la, talvez a colocasse em um quadro como havia sugerido Beatriz. Iria sentir falta daquela camiseta como sentia falta do passado. Se ele parasse pra pensar direito talvez não sentisse falta do passado, porque ele nem foi tão bom assim, mas era bom fantasiar somente com as coisas boas. Sentia saudades até de lembrar-se do desespero de nunca conseguir pegar nenhuma garota em nenhuma festa.

O terceiro show do Superchunk acabou, os anos 90 também e o mais estranho de tudo é que ele não estava com nenhum hematoma, nenhum pé ou cotovelo o havia acertado e a Laura não era mais gostosa, foi então que se deu conta de como as coisas haviam mudado.

Gustavo Campello

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