segunda-feira, 20 de junho de 2011

LEITE COM GROSELHA



Vitor começou a pensar em quando tinha começado a beber tanto, pensou na morte do seu avô, pensou na morte do seu cachorro, pensou nas desilusões amorosas, pensou em tudo o que aconteceu na sua vida até chegar a uma conclusão. Tinha começado a beber desde que pararam de vender groselha nos supermercados. Antigamente era uma coisa tão fácil de encontrar, agora era uma coisa escassa, sempre adorou tomar groselha, mais do que cerveja.

Sempre fora um viciado em groselha, recentemente descobriu uma sorveteria que tinha um sorvete de groselha que lembrava exatamente que tomava quando era pequeno, sempre que ia lá pedia este mesmo sorvete e relembrava a deliciosa groselha que não se achava mais. Viajando pro interior de Minas, Vitor encontrou um xarope de groselha artesanal, comprou e voltou pra casa com água na boca para experimentar esta iguaria. Ficou pensando se não era só no seu estado que este néctar dos deuses antigos havia se tornado esquecido devido aos novos deuses do refrigerante.

Chegou em casa e tomou uns três copos, um atrás do outro, era tão bom quanto ele se lembrava.

Então uma lembrança antiga tomou conta do seu cérebro, algo que ele havia se esquecido por completo, algo arrebatador, algo perfeito, uma coisa quase tão boa quanto sexo, algo que ele não fazia há mais de quinze anos... UM LEITE COM GROSELHA!

Foi logo para a geladeira e viu que havia uma caixa de leite ainda lacrada, era uma sorte que não havia só leite podre como sempre, abriu a caixa de leite e parou por um minuto.

“E se eu não gostar?” – pensou – “Se eu achar ruim vai estragar toda a memória que eu tenho de algo tão bom”.

Ficou olhando para a groselha e para o leite, um suor escorria pela sua testa, o que iria fazer agora? Suas mãos se mexeram quase que automaticamente, enquanto a direita colocava o leite no copo a esquerda colocava a groselha. Ficou olhando para aquele copo branco se misturando com o líquido roxo. Pegou a colher no escorredor, era uma sorte também ter uma colher limpa por ali, era quase como se o destino quisesse que ele tomasse aquilo. Misturou. O leite ficou com uma cor de rosa calcinha exatamente como ele se lembrava.

Levou o copo a boca e deu um gole.

- PERFEITO! – gritou.

Pena que não morava no interior de Minas, teria que se contentar com a cerveja quando a groselha acabasse.

Gustavo Campello

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