domingo, 10 de julho de 2011

AUSENTE



Vitor tomou coragem e ligou para sua filha.

- E aí Princesa?

- Oi pai!

- E aí? Como andam as coisas?

- Porque você some?

Não era bem um esporro, mas ele se sentiu péssimo por ter sumido de novo.

- Trabalhando muito – era a desculpa esfarrapada dele.

- Certo – disse a menina fingindo que acreditava.

Vitor queria dizer o quanto sentia muito, o quanto a vida não havia saído como ele planejara e que ela não tinha culpa nenhuma disso. Tentava manter-se distante porque achava que era melhor para a menina, pensava que não tinha como fazer bem nenhum para a menina por causa da vida que levava. Um bêbado depressivo é como Vitor se define para ele mesmo, mas a questão é... Ele levaria esta vida se estivesse mais próximo dela? Ele se definiria assim com ela por perto? O problema de Vitor é achar que faz mal para as pessoas que vivem perto dele, não liga de ficar mal vivendo longe delas, acha que é melhor assim.

- Quando você vai vir me visitar? – pergunta a menina que mora em uma cidade distante – você ainda não conhece minha casa nova.

- Prometo que vou mês que vem – diz Vitor pensando no dinheiro escasso que não dá nem pra viajar.

Com a promessa o ânimo da menina já muda, ele percebe que ela fica mais feliz, porque ela sabe que quando o pai promete alguma coisa, ele cumpre.

Vitor lembra que ainda não deu um presente de aniversário para ela e vai ter que providenciar, mais uma grana que vai ter que achar em algum lugar, apesar de que o mais difícil vai ser comprar um presente em si.

- Avise a sua mãe que eu vou praí então!

- Pode deixar, ela perguntou de você ontem.

- E o que você disse?

- Que você tinha sumido de novo!

- Sinto muito Princesa, a vida não saiu como eu planejei e você não tem culpa nenhuma disso.

Ele se sentia mais leve, seus olhos se encheram de lágrimas e antes dos créditos da ligação acabar conseguiu ouvir ela dizer:

- Pai, eu te...

Gustavo Campello

Um comentário:

  1. Beleza de estória... vou postar no meu facebook ok? To passando por uma fase estranha ao qual se assemelha á do Vitor, apesar de não ser um bêbado mas ultimamente me sinto depressivo e depreciado, amargo e infeliz... portanto a estória ai me lembra de muitas coisas e se assemelha muito aos sentimentos que sinto, realmente eu me identifico com o Vitor e compreendo o amor do pai para filha. Como ele disse: "... a vida não saiu como eu planejei e você não tem culpa nenhuma disso."

    Vida Longa e prósper!
    christopherdeep@gmail.com

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