domingo, 3 de julho de 2011

A PÁGINA EM BRANCO



Será que toda página em branco incomoda os escritores como incomoda a mim?

Posso ficar horas em frente a uma delas, encarando-a e me sentindo incomodado, querendo preenche-la. É um problema quando nada vem à mente, nem uma idéia sequer. Quero escrever, algo interessante, algo que venha do meu íntimo, mas só vem rabiscos, desenhos e coisas sem sentido.

Coço a barba, tomo meu Gin Tônica e quero preenche-la com qualquer coisa, não importa se seja boa como Joyce ou ruim como Cury. Só quero vê-la preenchida. Divagar sobre coisas corriqueiras ou imaginar o futuro da humanidade, me embrenhar em terrenos nunca antes desbravados ou qualquer outra merda que venha a cabeça.

Mas a página continua em branco.

Nenhuma idéia passa pela minha cabeça, me sinto anestesiado pela bebida, o que é estranho já que a bebida sempre costuma a ser o fruto das minhas idéias.

Começo a pensar se existiu algum escritor famoso nascido em minha cidade, muitos diriam que estou ficando senil. Como pude esquecer-me de Hilda Hilst? Mas sinto informar, Hilda Hilst nasceu em Jaú como muitos desconhecem.

Quem sabe não sou eu o escolhido?

Como um pedaço de frango pra tentar tirar o efeito do álcool do meu sangue, mas é tudo em vão, os remédios e as bebidas se misturaram já há muito tempo no meu organismo, no meu sangue, no meu cérebro, no meu metabolismo. Tudo roda a minha volta, vejo ninfas dançando um sapateado irlandês em cima e dentro do meu aquário. Leprechauns invadem o apartamento e logo estupram as ninfas com o som do The Pogues tocando ao fundo. As pobrezinhas ficam lá arfando depois que eles se vão.

Dou risada, a página ficou quase toda cheia no final das contas. Me sirvo de mais um pouco de bebida e vou assistir a alguma putaria em DVD.

Vitor Scaglia

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