quarta-feira, 3 de agosto de 2011

O ÚLTIMO SALTO DO PEIXE SUICIDA



No aquário de Vitor havia três neons negros, mas um era diferente dos outros dois.

- Cansado desta vida – dizia ele – não agüento mais.

Os outros dois nem davam bola, já haviam se habituado as reclamações dele e sem saberem acabavam deixando-o mais deprimido, sentindo-se sem amigos, sem ninguém para poder contar as coisas, completamente sozinho.

Um dia o pobre peixe pulou do aquário para encontrar a morte, porém Vitor viu e rapidamente o devolveu a água. Os outros dois peixes perceberam que a situação era pior do que imaginavam, mas daquele dia em diante o peixe nunca mais ficou deprimido, achou o que faltava na sua vida, seu objetivo, seu destino, virou um peixe saltador. Amava saltar, mais do que qualquer outra coisa, sabia que era um esporte de risco, mas a adrenalina é o que contava. Pulava para cima, pulava para os lados e às vezes acabava caindo fora do aquário, mas sempre contava com Vitor para devolvê-lo em tempo de sobreviver. Uma vez o pobre peixe teve que esperar Vitor tomar um banho inteiro até ser resgatado.

Um dia ele se preparou para quebrar todas as barreiras do impossível, bater o seu maior Record. Pulou do aquário com toda a velocidade que conseguiu obter, caiu perto da cadeira de balanço atingindo a incrível marca de um metro e três centímetros de distância. Seus outros amigos neons negros, os matogrossos e os neons normais que viviam no aquário deram aplausos, se agitaram e homenagearam o amigo com uma tremenda festa quando ele voltou arfando para o aquário pelas mãos de Vitor. Havia se estatelado, mas logo estaria pronto para mais saltos.

Vitor não sabia mais o que fazer com aquele peixe, pensou em tampar o aquário, mas sorte que não o fez para desespero do peixinho.

Uma noite ele estava pulando de um lado para o outro do aquário para treinar quem sabe uma nova marca, mas um descuido de calculo acabou fazendo com que ele caísse atrás do aquário, Vitor já estava dormindo, o peixe sabia que aquele seria o seu ultimo salto, deu o seu último suspiro e se alegrou com a lembrança de cada uma das vezes que saiu da água indo ao encontro a velocidade.

No dia seguinte Vitor sentiu falta de um peixe, olhou atrás do aquário e encontrou seu peixe seco e com um sorriso imperceptível.

Gustavo Campello

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