sábado, 11 de fevereiro de 2012

DESISTA!



Vitor não entendia essa coisa de lutar até o fim, pessoas com a capacidade de não desistir nunca. Se ele contraísse um câncer ou algum problema cardíaco – Queria que tudo mais fosse pro Inferno – não ia ficar indo em hospitais fazendo quimioterapia ou arrancando o coração para colocarem outro no lugar.

Vitor era o típico cara sem problema nenhum em desistir, achava até honrado isso, não tinha medo de morrer e não achava que a vida era assim tão legal para lutar por ela até o último suspiro.

- A vida que se foda – dizia ele para Sam, o seu cachorro.

O animal devolvia um grunhido que Vitor tomava como uma concordância, pois ele só contrariava o dono quando soltava um barulho mais agudo.

Não tinha dó de pessoas com câncer que passavam a vida lutando com tudo o que tinha, achava até bonito, mas não dó. Se a pessoa tinha problema em entregar os pontos, problema dela, ele não via a coisa dessa forma.

Algumas guerras se ganham, outras se perdem. Achava muito mais válido tentar fazer as coisas que queria e se não desse... Paciência, não se pode fazer tudo afinal de contas, já tinha na cabeça que não ia conhecer o Taj Mahal ou o túmulo do John Wayne, mesmo porque conhecer o túmulo do velho cowboy não devia ter graça nenhuma.

Tinha poucas coisas que Vitor almejava, talvez por isso conseguia ver a vida sem muito apego. Suas metas eram simples naquele momento. Queria beber vodka na Rússia, beber cerveja na Irlanda, beber run em Cuba, tequila no México e publicar uns três livros em vida... Vinho na Itália ele já tinha tomado. Champanhe na França ele não fazia questão porque não gostava da bebida e gin na Inglaterra também não porque não gostava do país. Outra coisa que não constava no seu Álcool Tour era whiskey na Escócia porque só gostava de Bourbon.

Nem transar com a Luciana Vendramini constava mais em suas prioridades, gostaria muito, mas se era o destino passar por esta vida sem este privilégio... Paciência.

Tinha até medo de ler todos os livros do Hemingway, depois que acabasse ia restar um sentimento de vazio maior ainda. O vazio preenchia cada vez mais a vida dele, parece que a cada dia algo se perde, algo fica sem sentido, como se sua própria humanidade fosse perdida, queria virar um peixe e nadar em seu aquário, ao invés de água podiam colocar Velho Barreiro, ia engasgar aos poucos, a garganta queimando, os olhos ardendo e vermelhos, vendo o mundo escurecer aos poucos através dos quatro vidros a sua volta.

Queria desistir agora, mas ainda tinha tanta coisa a ser feita, queria apressar as coisas o mais rápido possível, mas agora não podia.


Gustavo Campello

Nenhum comentário:

Postar um comentário