quinta-feira, 8 de março de 2012

O FIM (VITOR SCAGLIA TEM UM PLANO)



Tudo que tem um começo, tem um fim e nem sempre é um bom fim. Tentou lembrar de algum livro com final feliz, mas não conseguiu, lógico que havia algum, mas por mais que tentasse lembrar de algo feliz logo vinha as desgraças de Hank Chinaski em seus memoráveis finais losers ou de Robert Jordan quebrando a perna esquerda nos momentos finais de sua fuga depois de explodir a ponte. Nenhum final feliz era muito marcante afinal de contas na literatura.

Vitor pensou em todas as decisões e escolhas da sua vida, todos os caminhos que escolheu seguir acabaram sendo o lado errado da moeda, não havia acertado nenhuma vez sequer. Algumas pessoas tentavam dizer para olhar o lado positivo das coisas ruins que haviam acontecido, mas a verdade é que não havia lado positivo em coisa alguma, nem nas coisas boas que haviam acontecido com ele.

“Como uma pessoa pode fazer as escolhas erradas cem por cento das vezes?”

Ele se perguntava isto a todo o momento, começou a arrumar suas coisas, abriu caixas velhas onde havia recordações de sua infância e de diferentes épocas felizes e infelizes da sua vida, achou até uma foto de Elise, tinha quase certeza absoluta que tinha destruído todas elas, mas eis que havia uma ali que ele havia derrubado água há muito tempo atrás e ela tinha xingado ele por isto.

Sentou-se no computador e pensou em escrever uma carta para cada amigo, mas depois desistiu da idéia.

- O que diabos pensa que está fazendo? – perguntou Marciolo lá de dentro de uma gaveta.

- Eu tenho um plano!

- Espero que ele não seja um plano estúpido – Vitor se lembrou de Beatriz e o comentário lhe cortou como uma navalha – está tomando o seu medicamento?

- Não – disse Vitor olhando para a cartela de antidepressivos em cima da mesa, vazia já há mais de um mês – Estou me sentindo ótimo!

A conversa acabou assim, pegou o telefone e ligou para o seu amigo Adamastor.

- Fala sumido!

- Preciso de um favor – disse Vitor como quem não quer nada – lembra aqueles conhecidos seu que encontramos num bar uma vez que você me disse que eram barra pesada?

- O Rato e o Canivete?

- Eles mesmo!

- O que tem eles?

- Você tem o telefone deles?

Vitor e Adamastor chegaram uma hora depois em uma casa muito simpática em um bairro bem agradável.

- É aqui?

Adamastor não respondeu, estava bravo com o que Vitor estava obrigando ele a fazer, porque caso o contrário iria dizer para a garota por quem ele estava apaixonado todas as baixarias que conhecia a respeito dele.

Os sujeitos eram bem simpáticos, estavam fumando um narguilé com alguma erva pesada e assistindo um filme pornográfico com Kelly Divine. Ofereceram um trago, mas Vitor recusou, porém aceitou a cerveja que foi buscar na geladeira.

- Então você é o branquelo que ta querendo um berro? – disse o careca de bigode entrando na cozinha sorrateiro antes que Vitor pudesse voltar para a sala.

- Isso... E você é?

- Rato

- Rato... Certo! – o cara tava chapado e tentando botar algum medo em Vitor, mas passado o susto inicial já não botava medo em ninguém – Você ta aí com a mercadoria?

- “Você ta aí com a mercadoria?” – Rato riu – Você acha que ta na porra de um filme de gangue?

- Ta ou não ta, porra?

Ele mostrou uma arma meio velha, desgastada, mas para o que Vitor precisava, ela não precisava ser bonita, bastava que funcionasse. Deu o dinheiro, colocou ela na cintura e saiu dali com Adamastor o mais rápido possível.

Vitor tinha um plano.

Agora ele tinha uma arma.

Gustavo Campello

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