segunda-feira, 25 de junho de 2012

DIVAGAÇÕES SOBRE FANTASMAS



Somos todos fantasmas vagando no mundo real do esquecimento.
            
Sem corpo.
  
Apenas memórias que ficarão soltas ao vento enquanto nossas fotografias serão corroídas pela ação do tempo. Ninguém se lembrará de nós em determinado ponto do futuro, nossas ações, felicidades, sofrimentos e obras serão inteiramente decompostas em algum momento da história do universo. Um dia o planeta Terra será simplesmente consumido pelo Sol e seremos apenas poeira espacial. Nada mais. Nada menos.
            
Ninguém se lembrará de mim vagando por este espaço infinito de divagações em meus momentos finais. Serei tão inútil quanto um carrapato para a história humana. Minha mãe ainda se lembrará de mim, meus sobrinhos e meus amigos, mas depois que eles se forem o que restará sobre mim? Meus avós e amigos que já se foram são fantasmas que rondam o meu nome, tendo esperança de que no final eu ainda me lembre deles, de que no final eles ainda tenham tido alguma importância, mesmo que seja ínfima.
            
Posso ouvir meu avô gritando:
            
- Lembre-se de mim – o desespero em sua voz – Eu fui importante!
            
Carregamos vários fantasmas em nossos ombros, a vida é cheia de enterros, um atrás do outro. Vamos ficando mais fortes a cada um deles. A única coisa que não consigo encarar mais com muita naturalidade é o enterro de uma criança. Crianças não deviam morrer nunca.
            
Fico imaginando agora como será meu enterro, já que eles não terão um corpo para enterrar. Provavelmente terá uma solenidade em homenagem a minha pessoa.
            
Quem será que vai? - Gostaria que a Silvana fosse e que meu irmão não aparecesse.
            
Será que vai ter muita gente? - Eu acho que eu gostaria que tivesse bastante gente, que se lembrassem da pessoa que eu fui. As pessoas poderiam contar para as outras momentos que passaram comigo, dessem risadas e chorassem. E eu estaria ali sendo carregado pelos ombros de todas porque agora eu seria um fantasma.
            
Deve ser muito triste ter um enterro com poucas pessoas.
            
Penso na minha mãe e no meu pai, eles vão ficar arrasados, reclamar do emprego que eu escolhi, dos riscos que eu corri, vão tentar culpar alguém que não seja eu. Espero que eles tenham o apoio que precisem pra superar tudo. Gostaria que fosse o idiota do meu irmão no meu lugar. Gostaria de viver.
            
Espero virar um fantasma, como em filmes ou histórias em quadrinhos, poderei ver todos e ninguém poderá me ver. Entrarei nos banheiros femininos e realizarei o sonho de adolescentes. Ouvirei conversas particulares a meu respeito. Descobrirei que pessoas em quem eu confiava falavam mal de mim pelas costas e derrubarei móveis para assustá-los. Serei como uma mosca em seus aposentos.
            
Mas eu não acredito nesse tipo de coisa, penso nessas idéias juvenis apenas para não pensar na morte como ela realmente é. Fantasmas existem, mas não é uma coisa divertida.
             
Fecho os olhos e ainda vejo o meu avô ali, gritando, implorando para que eu não me esqueça dele.

Gustavo Campello

Nenhum comentário:

Postar um comentário