domingo, 10 de junho de 2012

DIVAGAÇÕES SOBRE HEROÍSMO



Em Memória de Ray Bradbury

“Eu não sou um herói!”

“Nunca fui”

Heróis são aquelas pessoas que inspiram outras, que são corretas e que acima de tudo não são egoístas. Não sou nenhuma dessas coisas. Posso ter ido a alguns colégios falar como é ser um astronauta para algumas crianças, mas todo o discurso é puro fingimento.

“Escute aqui garoto” – eu teria dito se fosse verdadeiro – “Ser astronauta não tem nada haver com esses filmes por aí, o trabalho é o maior tédio e passamos a maior parte do tempo nos masturbando para passar o tempo”

Gostaria de cruzar a galáxia com uma arma em punhos como o Flash Gordon. Desbravar um mundo desconhecido como Mongo. Ter um amor como Dale Arden. Um amigo como Zarkov. Um inimigo como Ming com o qual teria lutas épicas.
            
Ser astronauta não foi exatamente como eu havia planejado.
            
Heróis são aqueles que ficam para a história, pode ser o avô de alguém ou um grande escritor. E quando eu digo história não me refiro a enciclopédias velhas e sites na internet. Cada um tem uma história individual. Ninguém se lembra do nome de todos os desbravadores do continente americano, mas muitos foram heróis, outros vilões.
            
Os vilões ficam mais marcados na história do que muitos heróis, Hitler poderia colocar Ming no chinelo. Extermínio em massa. Queimar livros. Controle da mente.
            
“Es geht nicht um eine Neutralität nur im Zweiten Weltkrieg.”
            
Um herói nunca é neutro… Sob nenhum aspecto. Um herói nunca finge que os problemas não existem. Na humanidade realmente há muito poucos heróis. Há vilões demais.
            
Fecho os olhos e tento imaginar a minha fantasia, minhas aventuras, meus inimigos e meus amores extraterrestres. Uma mulher azul com os cabelos alaranjados. Gostaria de uma roupa verde, botas vermelhas e um foguete nas costas, foi para isto que estudei para ser um astronauta.
            
Ser um astronauta nunca fez de mim um herói, eu achei que ia fazer, mas eu estava enganado quanto a isso. Não conheci nenhum astronauta que possa se encaixar no perfil do herói, todos eram pessoas comuns com suas vidas comuns. Provavelmente vão me chamar de herói ao dizer que morri no espaço a serviço da ciência. Vão querer enaltecer minha morte pelas circunstâncias que ela ocorreu. O Instituto vai até conseguir arrecadar um pouco mais de verba em meu nome. Logo serei esquecido, mas servirei ao propósito deles. O Instituto logo me esquecerá e fabricará outro herói, algum outro acidente sabe-se lá onde, é preciso que o dinheiro entre e o setor de marketing é bom no que faz.
            
“Sou um falso herói!”
            
“Ainda não”.
            
“É preciso morrer primeiro pra ser um falso herói”.

“O bom de ser um herói de verdade é que você ao menos pode continuar vivo”.

Gustavo Campello

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