sexta-feira, 20 de julho de 2012

DIVAGAÇÕES SOBRE A ESPERA



Esperar, esperar, esperar... Esperar.

A vida é a espera pela morte, porém temos que ser pacientes para usufruir de todo o pacote que está no meio de tudo isto.

Eu particularmente sempre fui uma pessoa paciente, porém tive algumas desvantagens com relação a pessoas que não tinham paciência com nada. Pessoas impulsivas que pareciam correr mais atrás do que queriam do que eu. Durante muito tempo tive a impressão de ficar assistindo a vida passar e de observar pessoas conseguindo chegar aos seus objetivos enquanto eu ficava para trás. Ninguém acreditava que eu iria conseguir ser um astronauta, ninguém tinha muita fé em mim. Tive que esperar muito pelo meu grande momento, porém quando eu finalmente o tive, fui descuidado e agora estou morrendo por causa disto.

“Prender cabo de segurança 1, soltar cabo de segurança 2” – não era nada complicado.

Consegui estragar todo o meu momento de glória, iria voltar para casa como um herói. Esperei tanto... Não é justo.

Havia conhecido uma garota há duas semanas. Ela trabalha na torre de controle da missão. Nunca conheci o amor, porém achei que haveria uma chance para isto com ela, achei que finalmente havia chegado a minha hora. Conversávamos sobre qualquer coisa, tínhamos afinidades que eu achei que nunca encontraria em ninguém. Durante os poucos dias que tivemos juntos ela me fez muito bem. Ela foi especial.

- Desculpe Rachel – eu tento acreditar que ela possa me ouvir – mas não vou voltar para casa. Fui burro demais. Soltei o cabo de segurança 1 antes de prender o cabo de segurança 2 e agora vou morrer no espaço. Desculpe, desculpe, desculpe... Desculpe.

Minha voz soa abafada e isto é estranho.

Esperar as vezes faz bem, algumas pessoas colocam os carros na frente dos bois e só se ferram, porém me arrependo de ter esperado tanto. Devia ter falado mais as coisas que estavam entaladas na minha garganta, expressado mais o que estava no meu coração e feito mais o que eu tinha vontade. Agora é tarde.

Gostaria de coçar meu nariz, mas tenho que esperar a coceira passar. ODEIO ESTE CAPACETE! QUERO COÇAR MEU NARIZ! ODEIO TER QUE ESPERAR!

Por outro lado odeio esta sociedade imediatista que grita “Eu quero tudo e eu quero agora!” como uma criança mimada. Temos que entender que nunca teremos tudo e as coisas não podem ser sempre no nosso tempo. É preciso ter um equilíbrio. Sim, é preciso correr atrás dos nossos sonhos, é preciso entender que a vida passa, porém também é preciso saber lidar com frustrações se as coisas não saem como planejamos.

Não se pode ter tudo.

Não terei meu momento de glória.

Nunca.

Minha vida passou diante dos meus olhos e eu fiquei assistindo.

Agora estou vagando pelo espaço frio e silencioso. Apenas a morte é uma coisa certa.

Espero por um milagre. Espero por uma morte rápida. Espero por uma chance de me despedir. Espero por algo. No final das contas eu só continuo esperando...

Gustavo Campello

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