quinta-feira, 5 de julho de 2012

DIVAGAÇÕES SOBRE O INFINITO



    Em Memória de Alan Poindexter

O que é não ter fim?

Dizem que não conseguimos contemplar o verdadeiro significado da palavra infinito. A matemática é a única linguagem onde o infinito é contemplativo de uma maneira concebível para nossa limitada forma de pensamento. O amor também, mas o amor é uma forma de linguagem?

O amor de mãe para com seus filhos, salvo exceções, é infinito. A mãe que ama o seu filho ainda vai amá-lo quando todas as estrelas se extinguirem e não houver mais nada vagando pelo universo, só pó ou nem isso.

O amor é tão inalcançável.

Intocável.

Incompreensivo.

Infinito.

Enquanto contemplo o universo e fico há imaginar se ele é infinito mesmo ou não tenho vontade de amar algo, algo sem fim, que dure mesmo depois da minha morte. Que dure mesmo que não haja vida após a morte. Que meu amor vague pelo cosmo como o meu corpo vagueia agora e que seja assim para todo o sempre.

Se o universo tiver um fim este meu amor iria encontrá-lo, iria se espatifar com uma coluna de pedras que demarcaria o fim do infinito e mesmo depois de milênios vagando ela iria fazer todo o caminho de volta de onde surgiu e começaria tudo de novo. De novo e de novo e isto seria infinito mesmo que o universo tenha um fim.

Nem sei mais no que estou pensando direito. Não faz o menor sentido.

Tão perto da morte fico pensando se eu quero ter uma alma que dure para sempre, pois “para sempre” é algo tão longo e pesado que talvez me assuste mais do que deixar de existir. Lógico que eu quero que tenha algo depois, mas não sei se precisa ser “para sempre”. O infinito é tão grande e escuro como o universo que deve ser por isto que associamos os dois no nosso dia a dia. A matemática é fria e complicada, também como o infinito.

O amor é tão pouco associado ao infinito e é o mais parecido com ele. O amor verdadeiro. Infinito, grande, vazio e que nos faz sofrer.

Olho para o meu regulador de oxigênio e vejo que ele quebrou devido ao frio, não sei nem quanto tempo eu ainda tenho para respirar. Gostaria de um cobertor, consigo ver a fumaça saindo da minha boca e embaçando o vidro do capacete. Gostaria de poder desenhar algo com o meu dedo no vidro embaçado como fazia quando era criança.

Penso no tempo em que se passou entre eu estar aqui morrendo vagando pelo espaço e na última vez em que desenhei com o dedo em um vidro embaçado quando era criança.

Faz muito tempo.

Tanto tempo que parece infinito.

Gustavo Campello

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