sexta-feira, 10 de agosto de 2012

DIVAGAÇÕES SOBRE AS MULHERES



Tem coisas que eu lembro agora que estavam completamente perdidas. Fico feliz de poder lembrar-me de tudo, parece que meu cérebro ativou memórias que estavam suprimidas há décadas. Houve tantas mulheres em minha vida e tão poucas realmente significativas.

Luiza era uma garota companheira, éramos amigos, nunca nos relacionamos como namorados. Ela foi a pessoa mais atenciosa que conheci. Ainda lembro-me do vestido branco que ela vestia, quando a conheci, na festa de quinze anos da minha prima. Posso sentir o seu cheiro aqui dentro do meu capacete. Ela me tratou melhor do que todas as pessoas que conheci, mas nunca nos relacionamos.

Carla... Oh Carla... Desculpe-me por ter te pedido para fazer aquilo.

Tento não pensar em Carla, em seus ataques de nervosismos e da mania que tinha de tomar água durante a madrugada. Sempre me acordava. Gostava de conversar com ela, não tínhamos muitas coisas em comum, então prestávamos muita atenção um no outro. Mundos diferentes, histórias diferentes... Era interessante.

Tive medo do nosso envolvimento, terminou quando eu tinha vinte e dois anos, começou aos meus dezessete. No começo não tive a mínima vontade de namorar com ela. Ficamos acostumados a ficar juntos, durante muito tempo foi tudo o que tivemos. Um ao outro. Não agüentava o ciúme dela... Ela não agüentava minha determinação desde novo para ser astronauta.

- Você sonha demais – ela dizia – não quero estar com uma pessoa que só sabe sonhar e não faz nada!

Silvana foi diferente, foi a melhor pessoa que já conheci. Menti para ela. Menti? Será que eu realmente menti? Tem hora que a memória falha, mas dura pouco. Posso não ter mentido, mas fui um tremendo de um calhorda. Depois de tudo o que aconteceu entre a gente eu só queria fugir para longe. Olhei para o foguete que ia me servir de transporte até a estação espacial e disse – Me leve para longe – e lembrei-me de Silvana naquele momento mesmo depois de anos.

Minha mãe foi uma mulher importante também na minha vida. Controladora, metódica e durona. Quase um robô. Apelidei o robozinho que controlávamos via controle remoto na estação espacial de “Mãe”. Percebo agora que vim para o espaço para fugir um pouco das mulheres da minha vida, não que a culpa seja delas.

Rachel é uma boa garota, já deve saber neste momento que eu não vou voltar. Gostaria de mandar uma mensagem para ela em Código Morse, o pessoal da estação diria a ela “Sinto muito, não espere por mim. Viva!”.

Gostaria de saber como Luiza está hoje.

Gostaria de ter uma ultima conversa com Carla.

Gostaria de pedir desculpas para Silvana.

Gostaria de tentar fazer com que as coisas dessem certo com Rachel.

Gostaria de falar coisas engasgadas na minha garganta por anos a fio para minha mãe.

Mas agora é tarde.

Fecho os olhos. Penso em seus rostos e tento lembrar de cada detalhe com carinho.

Gustavo Campello

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