sábado, 15 de setembro de 2012

DIVAGAÇÕES SOBRE ACIDENTES



Acidentes acontecem o tempo todo, você pode sair para ir regar o jardim, tropeçar em um sapo, bater a cabeça e morrer. A vida é cheia de acidentes, alguns são mínimos e imperceptíveis e outros são enormes e marcam nossas vidas para sempre.

Minha vida estava indo muito bem, finalmente tinha um emprego que eu adorava, um salário digno, havia conhecido uma garota chamada Rachel e fui designado para minha primeira missão no espaço.

“Prender cabo de segurança 1, soltar cabo de segurança 2” – era só isso que eu tinha que fazer, mas por um desvio de atenção eu soltei um cabo de segurança antes de prender o outro. Acidente! - “Burro! Burro! Burro!”

Talvez meu nascimento tenha sido um acidente, quando pequeno ficava pensando se não era pra eu ter morrido no parto ou algo assim, que minha existência inteira era uma aberração da natureza e que só o fato de eu existir iria colocar todo o mundo em um colapso sem precedentes. Não sei se era pra eu estar vivo ou morto até agora, mas não acho que minha existência tenha sido tão significativa assim para a raça humana. Talvez a minha desatenção em prender os cabos de segurança tenha sido o universo conspirando para me apagar do mapa. Desprendi-me da estação espacial para morrer vagando pelo universo. Espero que eu não sofra muito quando o oxigênio acabar ou que eu esteja apagado já por alguma crise de pânico quando acontecer.

Lembro-me de uma tarde na piscina, estava só eu e meu avô. Ele tinha  sessenta e nove anos e eu ainda nos meus dezessete. Era final da tarde e meus pais haviam viajado, ele fazia aulas de natação e estava aprendendo a nadar depois de velho, havia feito uma cirurgia e se salvado de um câncer e tinha começado a fazer coisas que nunca havia feito desde então... Nadar era uma delas. Estávamos nos enxugando quando ele escorregou nos azulejos lisos como sabão, sua cabeça bateu em uma quina e rapidamente todo o piso branco ficou vermelho, me lembro de segurar sua cabeça e sentir o seu sangue quente escorrer pelos meus dedos, tentei estancar o sangue, mas parecia não surtir efeito nenhum.

- Vô!?!? – eu gritei – está bem?

- Tudo! – ele disse tentando sorrir. Deve ter percebido que eu estava realmente assustado como nunca estive na vida.

Minhas mãos tremiam. Eu ainda tentava estancar o sangue.

- Eu vou chamar ajuda – eu disse pensando em ir até o vizinho.

- Não, espera! – Disse ele segurando a minha mão bem forte – não me deixa aqui sozinho.

Então eu realmente entendi o que estava acontecendo.

- E então... – eu perguntei – como realmente está se sentindo?

- Nunca estive melhor – disse ele – Seja forte, pois esta vida... – então ele hesitou – ...É realmente estranha e maravilhosa.

Eu o abracei e fiquei assim por um bom tempo, me despedindo. Isto me marcou profundamente pro resto da vida, tudo o que eu fiz desde então foi tentando não decepcioná-lo.

Acidentes acontecem o tempo todo e são estranhos e maravilhosos... Como a vida.

Gustavo Campello

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