segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

DIVAGAÇÕES SOBRE CONSEQUÊNCIAS



Tudo que vai volta!

Todas as nossas escolhas refletem na vida das outras pessoas como ondas de uma pedra atirada em um lago. Essas ondas reverberam infinitamente durante toda a nossa existência.

Lembro-me quando, na casa de meus avós, balançava uma vara de bambu para tentar atrair morcegos. Queria derrubar um para provar que conseguia. Devia ter uns onze anos. Peguei um em cheio, rodopiou pelo ar e caiu na minha frente. O morcego tremia machucado. Me assustei e chamei meu avô. Ele me fez entender que eu avia machucado aquele animal que era mais fraco que eu e que agora ele era minha responsabilidade. Tive que pegá-lo e colocá-lo pendurado em uma árvore de sapoti que havia na casa dele. Esta árvore era uma das razões de haver tantos morcegos por ali. Eles adoravam esta fruta.

Durante uns três dias o morcego ficou ali pendurado, sem poder voltar para sua toca. Alimentava-se das frutas com dificuldade e eu ia conferir como ele estava a cada par de horas. Quando acordei no quarto dia ele não estava mais ali e senti saudades dele. Apeguei-me a ele. Nunca mais balancei um bambu para acertar morcegos.

“Você é responsável por quem cativas”

Frase célebre de Antoine de Saint-Exupéry.

Ela explica muita coisa sobre conseqüências. Principalmente quando nossos atos afetam terceiros, ou seja, a maioria deles.

Não existe cena mais triste pra mim do que lembrar-me da Raposa, interpretada por Gene Wilder, no campo de trigo com o olhar distante esperando o Pequeno Príncipe. Pra mim é a imagem mais concreta da tristeza.

Nunca quis machucar ninguém, mas na vida, isto é inevitável.

Muitas vezes evitei criar laços afetivos com pessoas com medo do que eu podia fazer a elas. Preferia me machucar. Me isolar. Me afastar.

Muitas vezes quando eu resolvia me reconectar e me aproximar era a outra pessoa que me machucava... E esta é a história da existência humana.

Eu acho que quando tomamos uma decisão, devemos estar preparados pelas conseqüências que ela trará. Estou morrendo no espaço, mas a decisão de ser um astronauta foi minha. Só minha. Não vou reclamar das conseqüências que isto acarretou, mesmo que tire a minha vida. Quando uma pessoa bebe, ela não deve reclamar quando seu fígado começa a parar de funcionar, isto seria uma atitude imbecil.

Não tem nada pior que fumantes reclamando de câncer no pulmão!

SEJAM COERENTES ATÉ O FINAL!

Eu tento ser coerente até o final.

Reclamar das consequências não leva a lugar nenhum. Quando se é possível corrigir algo que deu errado, então corrija! Não coloque a culpa em ninguém.

Desculpem-me por morrer no espaço, seja lá quem for sofrer com isto.

Só tenham em mente que eu nunca me arrependi por ter acertado um morcego com um bambu. Eu teria me arrependido se tivesse deixado ele lá no chão frio para morrer sozinho.

Gustavo Campello

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