quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

DIVAGAÇÕES SOBRE ENVELHECER



Existem pessoas que querem envelhecer e existem pessoas que preferem morrer mais jovens. Eu sempre pertenci ao segundo grupo. 

Envelhecer sempre foi o meu maior medo.

Minha avó ainda é viva, tem mais de noventa anos e está há quase dez vegetando em uma cama. Alzheimer e Parkinson. Alimenta-se por um tubo enfiado no seu nariz. Pick e Huntington. Ela era a pessoa mais independente que conheci, jamais gostaria de estar viva desta maneira. Lewy e Wernicke.

Sempre vi minhas tias e tios avós morrerem perto dos cem anos, todos ficaram anos em uma cama vegetando. Decidi que não morreria assim, enfiaria uma arma na minha cabeça e a explodiria se precisasse assim que fosse diagnosticado com alguma dessas doenças. Conheci Hemingway anos depois de tomar esta decisão e tudo ficou decidido ainda. Seria teatral, épico e definitivo.

As pessoas tentavam me convencer de que ser velho é legal. Você fica mais experiente, uma outra visão de mundo, poder enxergar mudanças ocorrendo bem na frente dos seus olhos e blá blá blá.

Se o mundo mudou no ultimo século eu realmente não acredito que foi pra melhor.

As pessoas ficaram mal educadas, mais burras e supérfluas. Pra que ficar velho pra enxergar uma merda dessas? Dispenso!

Apesar de que agora nem tenho mais escolha. 

Se for pra morrer hoje pra não ficar velho igual a minha avó... Tudo bem!

A única curiosidade é a de saber como iria ficar o meu rosto com uns oitenta anos. Onde eu teria mais rugas? Perderia todo o cabelo? Usaria dentadura ou teria ainda alguns dentes remanescentes? Meu corpo ficaria todo flácido ou ainda conseguiria manter algum resquício de dignidade?

Penso nas pessoas envelhecendo lá embaixo que se importam comigo, elas vão sofrer muito porque não vão ter um corpo para enterrar. Lembro quando um cachorro do qual gostava muito fugiu e nunca pude ter certeza de que ele estava vivo ou morto. Foi uma angustia viver com esta duvida até hoje.

O mais triste da vida é que nos acostumamos a viver sem as pessoas que amamos.

Pessoas entram na nossa vida, ficam um tempo e vão embora cedo ou tarde. Às vezes seguem outros caminhos ou simplesmente morrem. Todas elas. Sem exceção.

- Não vou ficar velho!

De certo modo é um alivio poder falar isto em voz alta. Penso em todas as coisas que vou perder daqui para frente, mas também penso em todas as coisas que serei poupado daqui para frente. Colocando em uma balança é difícil saber qual pesa mais.

Diziam que eu era muito depressivo por dizer que a pior parte da vida é o fato que viver cansa. Eu estava cansado de acordar todos os dias, cansado de pensar nas mesmas coisas, fazer as mesmas coisas e quando fazia diferente tudo me cansava também.

Ótimo, agora estou pensando sobre mim no passado. Como se já estivesse morto.

Gustavo Campello

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